História

 

A família da minha mãe sempre esteve e ainda está envolvida com automobilismo. Meu tio Dárcio tem uma equipe de Fórmula 3 Sul-Americana e alguns dos meus primos, de Kart.

 

 

 Aos seis anos ganhei meu primeiro kart do meu avô materno e tive que realmente provar que daria certo pra convencer meu pai a me deixar competir. Ele sempre me disse que primeiro tinha que ir pra escola e depois “brincar” e, que se eu tivesse notas vermelhas, não poderia mais andar de kart. Mas quando, na minha primeira corrida oficial cheguei em terceiro, na segunda, em segundo, e na terceira venci, as coisas mudaram um pouco. Continuei tendo que estudar muito, mas ganhei um grande aliado: meu pai. Posso afirmar com toda certeza que foi ele o grande responsável por ter chegado onde cheguei. Meu pai esteve e está ao meu lado em todos os momentos, nos maus e nos bons! Tenho total consciência da importância de minha família neste processo todo.

 

 

 A partir daí, foram anos de muitas conquistas. Competi por oito anos de kart e fui 5 vezes campeão brasileiro e paulista, sem contar as três vezes que fui vice. Também fui campeão sul-americano em 1986 e nono no Campeonato Mundial em 1987. Nesse Mundial, fui apadrinhado pelo Senna e tínhamos dinheiro apenas para eu ir só. Foi bem difícil, pois eu não falava nada em nenhuma outra língua.

 

 

Aos 16 para 17 anos, no início de 1989, ingressei na Fórmula Ford. Nessa época, as coisas ainda eram difíceis e me lembro bem de um episódio muito engraçado. Só tínhamos dinheiro para comprar um Fórmula Ford usado, e não era dos melhores. Antes dos primeiros treinos oficiais, tivemos que enviar os carros através da transportadora oficial da competição. Inexplicavelmente, meu carro caiu do caminhão e ficou destruído. Resultado: recebi um carro novinho e com isso pude já vencer a primeira prova. Terminei o campeonato em terceiro lugar. Aprendi muito na época, pois a diferença de um kart para um Fórmula Ford era e é enorme.

 

 

 Em 1990, vivi um ano muito difícil de minha vida, tendo que deixar para trás minha família, meus amigos e tudo que havia conquistado aqui no Brasil em busca do meu maior sonho: ser um piloto de Fórmula 1. Fui sozinho, e sozinho mesmo, pois não tinha recursos para levar ninguém para Europa. Fui participar do Campeonato Europeu de Fórmula Opel na Equipe Draco. Tinha 17 anos e amadureci muito, pois foi muito difícil enfrentar tantas barreiras.

 

 

Vejo hoje os grandes craques serem vendidos e, quando chegam ao exterior, existe uma enorme estrutura para ajudá-los. Já no caso da maioria dos pilotos, íamos com a cara e a coragem. No início, precisei de muita determinação, e tive que competir com a carteira do meu pai, pois eu não tinha licença para dirigir. Isso só foi possível porque eu e meu pai temos o mesmo nome e nascemos no mesmo dia, 23 de maio. Mas valeu, e muito!!! Pois, além de ter aprendido o italiano, fui campeão logo na primeira temporada e, com isso, a Europa quis descobrir quem era aquele moleque que logo no primeiro ano já tinha se tornado campeão.

 

 

Em 1991, uma nova categoria e um novo desafio: aprender inglês. Fui correr de Fórmula 3 Inglesa na equipe West Surrey Racing. Foi um ano mais difícil ainda, já que mudei da Itália para a Inglaterra. Mal havia aprendido o italiano tive que mudar tudo, sem contar o frio, que era insuportável. Mas devo confessar que o mais difícil mesmo de tudo isso era ficar longe de casa, era duro lidar com a saudade. Sempre fui muito próximo da minha família e, naquela época, não havia MSN, Skype, e nem mesmo celular. Mas também valeu muito a pena porque, mais uma vez, pude aprender uma língua sendo campeão da categoria. Fui o piloto mais jovem a me tornar campeão da Fórmula Inglesa e só fui batido pelo Nelsinho em 2004, um grande adversário. Ele foi campeão na segunda temporada e eu na primeira.

 

 

Com dois títulos seguidos, recebi um convite para disputar o Campeonato Europeu de Fórmula 3000 de 1992 pela equipe IL Barone Rampante. Foi então que as coisas começaram a melhorar um pouquinho. Afinal, eu já falava Italiano. Morava em uma casa muito boa e com o tempo outros amigos começaram a chegar do Brasil tentando a mesma sorte, o que ajudou na minha adaptação na Inglaterra. Muitos passaram por lá, como o Pedro Paulo Diniz, Gualter Sales, Ricardo Rosset e o Roberto Xavier. O ano foi duro. O carro não era muito competitivo e tivemos até que trocar o fornecedor de motor no meio da temporada. Mas mesmo assim consegui chegar em terceiro no campeonato e minha carreira caminhava a passos largos para, muito antes do que eu imaginava, poder sentar e acelerar um Fórmula 1.

 

 

Em janeiro de 1993 finalmente chegou o grande dia. Fui fazer um teste pela Jordan no circuito de Silverstone. Toda negociação foi muito rápida e mesmo tendo algumas outras ofertas decidimos fechar com a Jordan. Era o sonho tornando-se realidade. Meu primeiro GP foi o Grande Prêmio da África do Sul em Kyalami no dia 14 de março de 1993. Larguei em 14º, mas infelizmente aquela Jordan não me ajudava muito e ela quebrou. Mas eu nem liguei, pois era somente meu primeiro Grande Prêmio.

 

 

Meu único objetivo para aquela temporada era conseguir marcar pontos. Fiz grandes corridas, como a de Donigton, embaixo de muita chuva, mas a duas voltas do final e em uma brilhante segunda colocação o Jordan quebrou mais uma vez. Naquela temporada foram oito quebras em 16 corridas, porém, eu provava a cada prova que tinha um grande futuro. E no dia 24 de outubro de 1993, no Grande Premio do Japão, marquei meus primeiros dois pontos. Muitos foram os pilotos que passaram pela Fórmula 1 e nunca conseguiram marcar pontos e eu, já na minha primeira temporada, tinha conseguido marcar 2 pontos.

 

 

Tinha agora meu segundo grande objetivo, conquistar meu primeiro podium. E assim comecei 1994. Mal poderia imaginar que mais uma vez tudo aconteceria muito rápido e logo na segunda prova da temporada, na minha 18º prova, no dia 17 de abril de 1994, cheguei em terceiro. Mas, o mais importante daquele dia foi poder ver nos olhos do Ayrton, quando veio me cumprimentar, que nem ele mesmo teria feito melhor naquelas condições. Foi muito melhor que o próprio podium.

 

 

 Mas a próxima corrida chegaria e, pra ser bem sincero, relembrar momentos tão trágicos é algo que ainda me incomoda. No início da 1ª classificação, na variante baixa, entrei um pouco rápido demais e peguei a zebra de uma maneira que ela me arremessou para a barreira de pneus. Para minha própria sorte, lembro muito pouco dos momentos do acidente, das duas capotadas e de como os fiscais em uma maneira completamente irresponsável viraram meu carro. Tampouco me recordo de como cheguei até o hospital com o diagnóstico de traumatismo craniano, fratura do braço direito, fortes contusões na coluna e do lado direito do tórax, fratura do nariz e contusões na face e boca. No entanto, lembro muito bem de quem estava ao meu lado assim que eu recuperei meus sentidos: Ayrton Senna.

 

 

 Tive alta no sábado e fui pra casa. Nessa época ainda morava na Inglaterra e assisti a corrida pela TV. Era um final de semana muito tenso, pois o Ratzenberger havia morrido no sábado, o que já seria uma grande tragédia, que passaria despercebida para nós, brasileiros, com o que viria a acontecer. Bom, o resto vocês já sabem, mas o que talvez não saibam é que foi a maior perda da minha vida. Ayrton era meu norte, minha alegria de correr. Nas 18 corridas anteriores, às vezes não sabia o que mais me dava prazer, se era o fato de estar pilotando um carro de Fórmula 1 ou de estar ali perto dele. Provavelmente não me recuperei desse trauma. Tive que me recuperar de outros muito rápido, como o fato de ter que entrar no carro novamente e encarar os meus medos. O ano passou e tive excelentes resultados terminando o campeonato em sexto com 19 pontos.

 

 

 No decorrer dos próximos anos tive que conviver com a enorme pressão que, de alguma maneira, algumas vezes por ingenuidade minha, e outras por maldade de outras pessoas, foi colocada sobre mim. Hoje eu lidaria com tudo isso de uma maneira bem diferente. Porém, isso serviu para me ajudar a ser o homem que sou hoje. Os anos foram passando e fui conquistando ótimos resultados. Só que, agora, um pouco mais devagar do que eu gostaria, como a pole no Grande Prêmio da Bélgica em 1994 e o segundo lugar no Grande Prêmio do Canadá em 1995. Em 1997, depois de 4 anos da Jordan achei que tinha que mudar e a proposta da Stewart era muito boa,  porque acreditávamos que seríamos competitivos com a Ford nos apoiando.

 

 

 Em 1997, tirei uma pausa nos treinos e resolvi assumir oficialmente meu relacionamento com a Sil. Nos casamos no dia 24 de fevereiro. Sem dúvida, a Silvana teve um papel importantíssimo do decorrer da minha carreira. Ela me ajudou a lidar com todas as coisas boas e as más de ser um piloto de Fórmula 1 e sou muito grato a Deus por sua existência. Tivemos ótimos momentos, como o Grande Prêmio de Mônaco de 1997, quando cheguei na segunda colocação com um carro que quebrou 14 vezes em 17 provas.

 

 

 E melhores ainda com o três pódiuns em 1999 que me levaram a assinar com a Ferrari. Muitos acharam que eu estava completamente maluco ao assinar com a Ferrari de Schumacher. Havia passado por longos anos andando com carros que não me permitiram ser o Rubens tão vitorioso das categorias anteriores e eu precisava provar para mim mesmo que continuava vitorioso. Era um desafio mais para mim mesmo do que qualquer coisa: voltar a ter a confiança em meu potencial.

 

 

 O ano de 2000 chegou com grandes esperanças de mais pódiuns e de finalmente poder chegar a minha primeira vitória. No dia 31 de julho de 2000, depois de largar em 18º devido a problemas elétricos durante a classificação, consegui atingir meu terceiro objetivo: vencer uma corrida de Fórmula 1. Aquelas últimas voltas debaixo de chuva na metade do circuito e eu andando de pneu de pista seca foram momentos muito emocionantes e inesquecíveis!!! Não conseguia parar de pensar em todas os sacrifícios que minha família fez para que eu chegasse até ali. Foi um flash back de tudo que havia acontecido até aquele momento.

 

 

 Em 23 de setembro de 2001 nasceu nosso primeiro filho, o Eduardo. O Dudu tem sido um grande incentivador e seu nascimento foi algo que me trouxe muita paz e tranquilidade para continuar lutando pelos meus objetivos. Sempre que chego em casa após uma corrida batemos um papo sobre o que ele achou. Certa vez, após uma das duras corridas que disputei, ele me perguntou: “Porque você estava com cara de bravo no podium se o podium é uma coisa tão maravilhosa??”. Prometi a ele que motivo algum me faria ficar com cara de bravo no podium novamente! E eu que achava que não amaria ninguém igual ao Dudu, mas em 12 de setembro de 2005 nasceu o Fernando, nosso segundo filho, e percebi que estava errado.

 

 

 Pilotei 6 duros e longos anos pela Ferrari e sou muito grato a eles, pois a equipe me ajudou a conquistar os dois vice-campeonatos, as nove vitórias, os 25 segundos lugares e os 21 terceiros lugares, sem contar as poles e as voltas mais rápidas e os 5 títulos de construtores que eu ajudei, e muito, a conquistar. Aprendi muito com eles.

 

 

Os três anos que passei na Honda foram diferentes dos últimos que havia passado na Ferrari. Não tinha mais um carro tão competitivo. A relação com o Jenson Button sempre foi muito boa, assim como é até hoje. 2006 foi um ano de adaptação na nova equipe, e mesmo assim, marquei 30 pontos no campeonato. 2007 foi um dos anos mais difíceis para mim na Fórmula 1. Nosso carro não tinha um bom desempenho e, em 15 anos na categoria, foi a primeira vez que não marquei nenhum ponto. Em 2008 fomos bem pouco melhores, e eu consegui na raça, com um carro ruím, subir ao pódio no chuvoso GP da Inglaterra.

 

 

 A transição de 2008 para 2009 foi tensa. Por causa da crise financeira, a Honda anunciou que deixaria a Fórmula 1, e muitos acreditavam que eu me aposentaria. Mas eu estava confiante e segui com a preparação física. No começo de março, foi anunciado que o Ross Brawn, que já havia sido contratado para ser engenheiro-chefe da ex-Honda, assumiu o espólio da equipe, e que eu e Button estávamos confirmados como pilotos da nova Brawn GP.

 

 

Já na pré-temporada, provamos que o carro era muito bom, até porque o Ross participou de toda a construção do carro desde o meio de 2008. As duas vitórias em 2009, em Valência e Monza, são provas de que aos 37 anos ainda tenho muita gana e velocidade para continuar competitivo na categoria e ter ajudado a equipe a conquistar o título de construtores foi algo muito legal, porque eu sei como essas pessoas batalharam e se uniram para superar as dificuldades. Foi um ano muito especial, um ano definitivamente vencedor.

 

Fonte: Site Oficial Rubens Barrichello - www.barrichello.com.br
 

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